A trajetória do Sport Club Internacional está intrinsecamente ligada à figura folclórica do Saci-Pererê, marcando uma jornada conjunta que se desenvolveu ao longo dos anos. Fundado em 1909, o Internacional testemunhou o crescimento do clube e, nove anos depois, Monteiro Lobato publicou o livro “O Saci-Pererê: resultado de um inquérito”, transformando a tradição oral da lenda do saci em uma história escrita a partir dos depoimentos de leitores do jornal Estado de S. Paulo.
A ascensão do Internacional como potência estadual e nacional nas décadas de 1940, com o famoso Rolo Compressor, coincidiu com o surgimento do mascote negro colorado conhecido por suas travessuras, chegando em redemoinhos. O clube, historicamente, desempenhou um papel vital no combate ao racismo no futebol gaúcho. Já em 1928, Dirceu Alves vestiu a camisa alvirrubra, e dirigentes colorados contrataram jogadores como Tupan no final dos anos 20, antes do profissionalismo ser oficialmente adotado.
A imagem do jovem negro malandro, habilidoso nos dribles e travessuras, tornou-se diretamente associada ao Internacional. Em 1960, a segunda revista do clube foi intitulada “O Sacy”, e a figura do Saci estava presente em cartuns, flâmulas e até mesmo em pequenas estatuetas entregues aos atletas de destaque.
Somente em 2016, o Saci tornou-se oficialmente o mascote do Internacional, sendo documentado no estatuto do clube pela primeira vez, após décadas conquistando o carinho dos torcedores.
A origem do Saci remonta às tribos indígenas do Sul do Brasil, especialmente na Região das Missões. Essa entidade brincalhona, conhecida por suas travessuras e habilidade em enganar viajantes, ganhou características específicas com a chegada dos escravos africanos ao Brasil, incorporando a perna única, perdida “jogando capoeira”.
A popularização do Saci foi impulsionada por eventos como a composição da marcha “O Saci-Pererê” por Chiquinha Gonzaga em 1909 e o “inquérito” promovido por Monteiro Lobato em 1917. O livro resultante, “O Saci-Pererê: resultado de um inquérito”, lançado em 1918, contribuiu significativamente para a disseminação dessa figura na cultura brasileira. Além disso, o cartunista Ziraldo, em 1958, deu sua contribuição com “A Turma do Pererê” na revista O Cruzeiro, marcando um momento icônico na história dos quadrinhos brasileiros.
A história do Internacional e do Saci-Pererê é um testemunho de como o folclore, a cultura popular e o esporte podem se entrelaçar de maneira única, criando uma identidade rica e autêntica que transcende as quatro linhas do campo de futebol. O mascote não é apenas um símbolo do clube, mas uma representação viva da diversidade e resistência cultural no coração do futebol brasileiro.